Adagri fecha cerco contra Anemia Infecciosa Equina.

23 de março de 2010 - 03:00

Quixadá. Técnicos da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri) estão fechando o cerco no controle de sanidade animal em Quixadá. A cidade é conhecida pela tradicional comercialização de animais na região Centro do Estado. Mais de 40 cavalos e éguas já foram sacrificados desde o início do ano neste município. Apresentavam Anemia Infecciosa Equina (AIE). Além de contagiosa, a doença não tem tratamento. A única alternativa para o controle é a eliminação das espécies contaminadas.

De acordo com a gerente da unidade da Adagri em Quixadá, médica veterinária Ana Gláucia Gonçalves, os animais sacrificados são anestesiados e em seguida recebem injeção letal de cloreto de potássio. “O processo não causa sofrimento, é indolor e humanitário”, garante. Em seguida, é necessário enterrar ou incinerar o bicho. Mesmo morto, qualquer contato de animais da mesma espécie pode transmitir a enfermidade incurável, conhecida como “aids dos cavalos”. A infecção é detectada por meio de exame de sangue.

Para não arcarem com o prejuízo, muitos criadores, principalmente proprietários de cavalos e éguas, estão tentando passar o problema para a frente. Estão vendendo os animais antes da chegada dos técnicos da Adagri. A denúncia é feita pela veterinária. Por isso, ela orienta os interessados em adquirir equídeos a exigirem o resultado dos exames. A emissão da Guia de Trânsito Animal (GTA), necessária para o transporte de um lugar para outro, é feita com a apresentação do resultado.

O agricultor e criador Juarez da Cunha Maia sentiu esse problema na pele. Ele mesmo chamou a equipe da Adagri quando recebeu o resultado do último exame. Em seu rebanho, quatro equídeos foram sacrificados devido à contaminação. Não foram poupados animais com valor comercial superior a R$ 7 mil. Não bastasse as perdas na roça, o pecuarista, que reside na comunidade de Buenos Aires, na zona rural de Quixadá, acumula prejuízo superior a R$ 20 mil. Embora pudesse vender os animais, mais barato, preferiu atender as orientações oficiais.

Porém, nem todos os criadores procedem da mesma forma. O agricultor Antonio Hélio Luz, mora em Milhã. Toda semana ele viaja mais de 240km até o Parque de Feiras de Quixadá. Para complementar o orçamento familiar compra e vende cavalos. Ele disse que atenderia as exigências sanitárias, mas não há quem faça os exames na sua cidade. Também não tem como arcar com as despesas das análises de laboratório. Custam em média R$ 30, por cabeça. “Só valem por seis meses”, reclama. Admite que, por enquanto, o jeito é arriscar, ou deixar de viajar para Quixadá.

 

Formação de parcerias

O secretário de Agricultura e Recursos Hídricos de Ibaretama, Carlos Bezerra Filho, a 26km de Quixadá, vê como alternativa para os pequenos criadores a formação de parcerias das prefeituras com os órgãos oficiais como a Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado (SDA) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Com o auxílio dos governos Federal e do Estado e a redução ou isenção da despesa, o interesse pelos exames poderá aumentar. No município, dez equídeos foram sacrificados somente este ano.

Segundo a responsavel pelo programa Estadual de Sanidade dos Equídeos, medica veterinária Patrícia Gomes de Matos, em 2009 foram realizados 15 mil exames no Ceará. Desse total, mil animais apresentaram resultado positivo. Os números representam quase 7% de contaminações. A Adagri ainda não possui dados precisos acerca dos rebanhos e da quantidade real de infectados. Estima-se a existência de 450 mil no Estado. “A melhor forma de combate é a eliminação do foco”, completou. A legislação brasileira de sanidade animal considera a AIE como de notificação obrigatória. A norma foi estabelecida pelo Ministério da Agricultura em junho de 2004. O sacrifício do animal portador da infecção contagiosa e incurável deve ser realizado no prazo máximo de 30 dias, a contar da data do diagnóstico, pelo serviço sanitário oficial de cada Estado.

No Ceará, a Adagri é o órgão responsável pelo controle e combate da doença. Ao proprietário do animal sacrificado não cabe indenização. O exame para a AIE vale por 60 dias nas propriedades não controladas. Onde os animais não apresentarem reagente positivo em dois exames consecutivos o prazo passa para 180 dias.

 

FIQUE POR DENTRO
Doença vira

A anemia infecciosa equídea é uma enfermidade viral. Infecta equinos, asininos e muares de qualquer idade ou sexo. É caracterizada por se apresentar nas formas aguda, subaguda, crônica e assintomática. A transmissão ocorre através da picada de insetos hematófagos, principalmente mutucas, que levam o retrovírus (da mesma família da aids provocada nos humanos) de um animal para o outro. A contaminação também pode ocorrer por meio de utensílios infectados como agulhas, esporas e arreios. A relação sexual e o leite são outras formas de contágio. Os animais ficam infectados por toda a vida. Para identificar a doença, na forma aguda os animais podem apresentar anemia, falta de apetite, edemas, febre, depressão e hemorragias. O resultado do exame sai em até 72 horas. Confirmada a doença, o sacrifício é feito para evitar novos casos.
Fonte: Diário do Nordeste